Viagem marcada. Passagem na mão. Sinto aquela sensação estranha de novo. Aquela que surgiu nos últimos dias. Talvez seja saudade. Antecipada, é claro. É engraçado como sonhamos em sair de casa e construirmos nossas vidas, mas nunca paramos para pensar como realmente seria se tudo fosse real. Eu não pensei em desistir nem por um segundo. Mas isso não me impediu de me sentir só.
Já dizia Azar Nafisi: "Você tem uma sensação estranha quando está prestes a sair de um lugar. Como você não só vai perder as pessoas que ama, mas como também irá perder a pessoa que você é agora, neste momento e neste lugar, porque você nunca mais vai ser assim.".
Não importa a distância ou o número de dias que você fique longe de casa, o sentimento é o mesmo na véspera. Aquela vontade de olhar tudo ao redor, para não esquecer um único detalhe. Para carregar na alma o que o corpo não vai sentir por perto.
Quando o breve ou longo afastamento ocorre, tudo é muito novo. É como se perder no interior ao ver a quantidade de estrelas que existem no céu. Você não sabe muito bem o que sentir. Apenas segue o fluxo. Dança conforme a música. E então surgem as perguntas e você olha (involuntariamente) para o lado, mas não existe ninguém lá. Não há outra pessoa para respondê-las por você.
É justamente nesse segundo, que você encara um outro de lado de si mesmo. Quem você é quando ninguém o conhece. É uma oportunidade tão libertadora, que chega até a assustar. Onde você sente falta de quem o construiu e tem medo de arruinar esse castelo de cartas que é a nossa personalidade.
Poder experimentar, sem ter alguém que te lembre o que você costuma fazer. Essa é talvez a melhor parte da experiência. E a mais transformadora. Quando você volta, tudo continua da mesma maneira. O que muda é a sua perspectiva.
É até um pouco difícil retornar a antiga rotina. Sair do piloto automático te faz perceber coisas que antes passavam despercebidas no meio desse roteiro atrapalhado chamado cotidiano. É como conhecer um lugar escondido na sua rua preferida.
O computador não parece mais tão convidativo. Nem a cadeira com que você era acostumada. O engraçado é que o lugar que te transformou, também não poderia ser sua morada. E então você se vê numa encruzilhada: Se eu não tenho um lugar pra chamar de casa, como irei saber quem eu sou?
Talvez eu descubra algum dia. Enquanto não encontro as respostas, procuro refúgio no meu verdadeiro lar que não possui moradia definida: nas palavras.
Texto: Carol Chagas
Foto: We Heart It
Texto: Carol Chagas
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