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Mostrando postagens de abril, 2020

e é por isso que me escrevo.

Quando toco violão, silencio uma parte minha que argumenta. Em tempos de exagero e euforia, o silenciamento é mais do que necessário. Mas quando chega então, a fase da melancolia, há um receio em calá-la.  A pergunta que fica é "Ela terá algo a dizer quando tudo acabar? Ou será mais uma memória perdida?".  Eu sei que anunciei uma pergunta, mas joguei duas na roda. Esta sou eu, escrevo como falo e sinto dificuldade em explicar o que eu sinto sem quebrar tudo em pequenas frases. Gosto de mastigar. Viu? Fiz de novo.  Sou frequentemente impactada por frases curtas que machucam e afagam na mesma proporção. Você sabe do que eu tô falando. Pode ser num filme, numa série ou na vida mesmo. Quanto maior a amargura das palavras, mais poético tudo se torna. Às vezes até me desconecto de brigas para apreciar a beleza do que foi dito, mesmo que machuque. E não cure. Em tempos de quarentena, é especialmente importante que a gente acolha o nosso eu pensante. A minha eu a

tudo aqui tem dedo seu.

E, de repente, eu sabia porque eu era como era. Enquanto ouvia minha mãe aprendendo um novo jeito de costurar o tapete e o meu pai com sua sagrada vídeo aula sobre o que quer que tivesse a ver com impostos, eu entendi. Como seres humanos que talvez fossem assim de natureza e, se não é o caso, não sei direito com quem começou, a questão é que seres humanos que conviveram por muitos anos juntos adquirem costumes interessantes. Éramos viciados em aprender e estarmos ocupados. Assim como nós, não sei se os vícios surgiram juntos ou se eles coexistiam um ajudando o outro a se manter. Meu irmão não entendia essa nossa vontade estranha de ficar sozinho estando junto, cada qual com seu mundo. Era raro quando ele se entretinha com algo sem que houvesse alguém pra assistir.  Suas descobertas precisavam de plateia , enquanto que as nossas necessitavam de silêncio para serem admiradas. Ele olhava a quantidade de vozes e sons que cercavam cada um e sem entender, passou a observa

estou cansada de matar formigas.

Estou cansada de matar formigas. Uma a uma, elas vão me desconcentrando. Me fazem revirar os olhos, tirar as coisas do lugar, tudo para obter um melhor ângulo de ataque. Às vezes, confesso que até perco o apetite com tantas mortes. Dependendo do horário, são muitas. E quanto maior o número, mais inconveniente a situação se torna. Deixei de usar relógio no pulso, porque sempre que eu o olhava procurando as horas, encontrava uma delas me escalando. O que me tornava um ponto tão interessante de escalada? Saberiam elas que eu era a assassina secreta de seu grupo? Ou seria eu um mero meio de transporte conveniente o bastante para valer o risco de ser capturada? Seriam elas unidas? Duas ou três serviriam de isca como sacrifício para o restante? Eu matava quase que inconscientemente, pelo hábito, e não porque temia um ataque sorrateiro. Haveria um ataque sorrateiro, mas barulhento o bastante para me acordar durante a noite e não me fazer pegar no sono quando todos fazem