é sobre aquela vez que você se decepcionou e eu não fui na sua casa te ver, mesmo você me dizendo que precisava de companhia. ou aquele dia que a gente brigou numa viagem e por ter tanto medo de perder nossa amizade, até hoje não te expliquei meu ponto ou ouvi o seu. é sobre a infância que eu sonhei em passar ao teu lado, mas sempre fui medrosa demais pra posar fora de casa ou passar tardes brincando com você na calçada. aquelas desculpas que eu dava pra não te encontrar não tinham pé, cabeça, teto e parede. é sobre o gelo que eu te dei porque não conseguia conversar com você sobre o que me incomodava na nossa amizade. me afastei até nos tornarmos estranhos conhecidos e provavelmente nunca vamos falar sobre isso. porque é possível que a gente não se fale mais. é sobre aquelas tuas mensagens carinhosas que eu nunca respondi. quem vê de fora, deve pensar que eu brinquei com o seu coração, mas eu só não tava pronta pra deixar alguém entrar. há muito tempo uso essa desculpa e ela não cola
a percepção do tempo tem sido tão desconexa. algumas coisas deixaram de existir em algum momento desse ano, mas por não saírem da cabeça, parecem nunca ter ido embora. enquanto outras, ainda duvido de que tenham acontecido há apenas oito meses. minha mente ultimamente tem se movimentado como um pêndulo, nunca completamente certa de onde está, sempre vagando tentando encontrar um bom lugar ao sol - mesmo que não se vejam muitos lugares com algum tipo de vista -. às vezes me percebo tão enferrujada, como quem tenta voltar à vida, mas que ainda permanece cercada por uma barreira invisível. noutros momentos, parece que ainda tem tanto pela frente, mesmo que os últimos dias tenham sido tão terrivelmente iguais. é incrível como falta algo em todo lugar que eu vou. estou começando a achar que não são os lugares, mas eu que me fragmentei a tal ponto, que agora pareço nunca estar completa, como quebra cabeça com peças demais. tudo está perambulando pela minha cabeça, mas nada parece ficar.