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Mostrando postagens de 2020

como é que tá aí?

O pantanal tá queimando e eu não consigo  ver uma saída pra retroceder.  O tempo tá passando estranho e  há um ano eu podia te ver.  Hoje só dá engano  e eu não posso ir até você.  Os meses tão se demorando,  mas a minha idade não demora a aparecer. Eu sinto o clima pela minha porta  e da janela vejo a cidade.  Vejo a areia lotada de almas  entortando a curva com serenidade.   eu continuo sempre desleixada,  sem saber o que quero pra mim.  viver da arte, me vender em sampa  ou uma vida mochileira enfim.  se eu não decido,  sei bem que a vida  decide por mim.  mas desse ponto eu não gostei nadinha e não me atrevo  a descer aqui.  se me desmancho na sacada,  tenho certeza que tenho plateia.  sem reembolso,  a peça livre é da garota que não tinha ideia.  a relação que tenho com essa casa  é quase de dependência pura.  é uma mistura assim de gratidão  e prisão que construí  numa hora bem escura.  o teto sempre mudo vê  que as paredes falam  pelos cotovelos.  e eu sei que quando pulo,  cai

voltei a escrever a lápis.

Quando estava na segunda série, minha escola decidiu que éramos alfabetizados o bastante para começar a escrever as tarefas com caneta. me parecia cedo e importante demais.  N ão faço ideia se os professores nos avisaram como seria. mas lembro-me de ficar nervosa e surpresa. mais tarde eu saberia melhor como me sentiria à respeito de rituais e tradições. mas aos 6 anos, me sentia ansiosa a cada  ''próximo!'' dito pela professora, enquanto espiava os que entravam e dali não saíam pelas frestas da janela com grade.  Por fora, eu tagarelava algo - que nunca vou saber ou lembrar - com meus amigos. mas por dentro, eu sabia que a minha vez ia chegar. e era inevitável. eu só não sabia se isso me deixava feliz ou com medo. talvez os dois. a gente nunca sabe o que esperar ou o que sentir sobre o que não sabemos que acontecerá. Ao entrar, ganhei uma caneta azul bic com um laço rosa e um papel enroladinho. era um recado, comunicado ou qualquer outra coisa que info

Petals for Armor mostra que há saída.

O texto de hoje não é só sobre um álbum, mas sobre um momento . Hayley Williams, mais conhecida como a potente vocalista do Paramore, lançou um álbum solo durante o hiato da banda. e mais importante do que a qualidade das músicas, é a jornada de Hayley nestas composições. ' Petals for Armor ' tem muitas camadas e merece uma escuta mais atenciosa. estou ouvindo pela terceira vez, não porque gosto de todas as músicas, mas porque me identifico muito com os sentimentos abstratos que ela aborda nas canções. talvez não venha com a roupagem que você espera. mas ele dá espaço para hayley explorar o seu momento e suas próprias complexidades. juntamente com a quarentena, o álbum vem quebrando a minha cabeça. trazendo mais e mais questionamentos. certezas que logo depois são lavadas. a memória sendo invadida e brincando com seus jeitos tão próprios de contar minhas histórias. arrependimentos, erros, possibilidades. esse labirinto tão bem elaborado ás vezes se torna cansa

e é por isso que me escrevo.

Quando toco violão, silencio uma parte minha que argumenta. Em tempos de exagero e euforia, o silenciamento é mais do que necessário. Mas quando chega então, a fase da melancolia, há um receio em calá-la.  A pergunta que fica é "Ela terá algo a dizer quando tudo acabar? Ou será mais uma memória perdida?".  Eu sei que anunciei uma pergunta, mas joguei duas na roda. Esta sou eu, escrevo como falo e sinto dificuldade em explicar o que eu sinto sem quebrar tudo em pequenas frases. Gosto de mastigar. Viu? Fiz de novo.  Sou frequentemente impactada por frases curtas que machucam e afagam na mesma proporção. Você sabe do que eu tô falando. Pode ser num filme, numa série ou na vida mesmo. Quanto maior a amargura das palavras, mais poético tudo se torna. Às vezes até me desconecto de brigas para apreciar a beleza do que foi dito, mesmo que machuque. E não cure. Em tempos de quarentena, é especialmente importante que a gente acolha o nosso eu pensante. A minha eu a

tudo aqui tem dedo seu.

E, de repente, eu sabia porque eu era como era. Enquanto ouvia minha mãe aprendendo um novo jeito de costurar o tapete e o meu pai com sua sagrada vídeo aula sobre o que quer que tivesse a ver com impostos, eu entendi. Como seres humanos que talvez fossem assim de natureza e, se não é o caso, não sei direito com quem começou, a questão é que seres humanos que conviveram por muitos anos juntos adquirem costumes interessantes. Éramos viciados em aprender e estarmos ocupados. Assim como nós, não sei se os vícios surgiram juntos ou se eles coexistiam um ajudando o outro a se manter. Meu irmão não entendia essa nossa vontade estranha de ficar sozinho estando junto, cada qual com seu mundo. Era raro quando ele se entretinha com algo sem que houvesse alguém pra assistir.  Suas descobertas precisavam de plateia , enquanto que as nossas necessitavam de silêncio para serem admiradas. Ele olhava a quantidade de vozes e sons que cercavam cada um e sem entender, passou a observa

estou cansada de matar formigas.

Estou cansada de matar formigas. Uma a uma, elas vão me desconcentrando. Me fazem revirar os olhos, tirar as coisas do lugar, tudo para obter um melhor ângulo de ataque. Às vezes, confesso que até perco o apetite com tantas mortes. Dependendo do horário, são muitas. E quanto maior o número, mais inconveniente a situação se torna. Deixei de usar relógio no pulso, porque sempre que eu o olhava procurando as horas, encontrava uma delas me escalando. O que me tornava um ponto tão interessante de escalada? Saberiam elas que eu era a assassina secreta de seu grupo? Ou seria eu um mero meio de transporte conveniente o bastante para valer o risco de ser capturada? Seriam elas unidas? Duas ou três serviriam de isca como sacrifício para o restante? Eu matava quase que inconscientemente, pelo hábito, e não porque temia um ataque sorrateiro. Haveria um ataque sorrateiro, mas barulhento o bastante para me acordar durante a noite e não me fazer pegar no sono quando todos fazem

hoje não é um bom dia pra escrever.

Hoje não é um bom dia para escrever. Li minha escritora favorita, ouvi a música que tem me emocionado nas últimas semanas e, mesmo assim, nada. Acho engraçado essa coisa que a gente tem de criar um ambiente pra deixar escorrer algumas palavras - como se fosse algum tipo de ritual sagrado -.  Mas apesar dos esforços, algumas coisas não podem ser planejadas. Às vezes, você está no meio do ônibus com o triplo de gente do que caberia ali, a temperatura nas alturas e BAM. Uma grande ideia. Você até tenta pegar o celular escondido no bolso da frente debaixo de um casaco dobrado na cintura (evitando algum tipo de furto), mas você ainda é muito amadora no circular.  A ideia fica na cabeça o caminho todo e vai se remexendo dentro de você enquanto você chega na sua rua juntamente com a chuva que logo começa a cair. No primeiro passo dentro do prédio, já com o celular na mão, você anota. Parecia mais genial dentro do ônibus. E talvez tivesse florescido mais se você não estivesse se focan