Lembro-me de quando eu era criança e fazia inverno e eu usava meias para dar qualquer passo dentro de casa. às vezes, meus pais erravam a mão no detergente quando lavavam a sala e não importava o quanto eles encharcassem o chão pra compensar, tudo ficava lisinho lisinho por pelo menos três dias. e eu fazia a festa. chegava da casa da minha vó, arrancava fora os tênis como quem solta o cabelo depois de ficar o dia todo preso. e deslizava por aquele chão. ligava a tv. e via qualquer coisa que eu gostasse enquanto patinava no gelo e me sentia rápida, habilidosa no piso. meus pulos eram saltos triplos. a sala, lisa ou não, costumava ser meu palco. ali eu dava shows, recriava cenas de séries e filmes que eu gostava, ensaiava vidas que eu imaginava viver algum dia. criava cabanas e fazia rapel ao enrolar a rede de diferentes jeitos no gancho da pequena sacada. lambia o prato ao fim de um miojo, só porque eu era apaixonada por queijo ralado e não tinha como desperdiçar. co