não que eu seja grande, mas por alguns anos, cresci como numa corrida quase que involuntária, sem depender muito de mim ou de algum esforço meu.
assim como a minha altura mudava literalmente do dia para noite, ano após ano, eu também mudava de sala de aula, matérias e professores. mudanças que dependiam de mim, mas que também seguiam a lei natural escolar brasileira.
minha vida caminhava pra frente, mesmo que eu não estivesse afim ou que eu não soubesse direito qual decisão seguir. assim como tantos, vivi esses anos achando que seria sempre assim. que tudo se encaminharia, correria seu curso natural, progressivamente.
de tanta estabilidade, acho que hoje me sinto em queda. acordo todos os dias do mesmo tamanho e não sei se me sinto progressiva, em crescimento. às vezes acho até que encolho durante a noite e me vejo do tamanho que acredito ter pela manhã.
em alguns momentos desperto e tenho pressa, grito como criança que quer ser atendida. mas quando atendo, algo acontece. como bolhas numa panela de água prestes a ferver, as preocupações reais e fictícias aparecem. e eu volto a si sem voltar para mim.
tem sido assim continuamente nos últimos meses. às vezes acho que tenho a faca e o queijo na mão, mas no dia seguinte percebo que nem fome de verdade eu tenho.
sinto que preciso alimentar meu espírito para poder mudar minha vida, sinto que é agora, que não há outro momento.
mas não sei se ainda tenho em mim a espiritualidade que mudanças exigem.
me sinto à deriva mergulhando em ondas que já conheço e apesar de conhecer a água, novamente não sei o caminho de volta.
confesso que da última vez não sei bem como voltei, quando dei por mim, já estava em um lugar melhor. nunca sei quanto tempo essas sombras levam, quanto de mim ainda fica. às vezes parece mais, às vezes menos.
na época em que eu era adolescente, todo dia antes de dormir pedia secretamente para que eu crescesse mais e mais - mesmo não sabendo o que eu faria, caso conseguisse toda aquela altura desejada -, hoje em dia peço para que eu não decresça, para que eu exista e continue querendo existir. para que eu encontre o sentido que eu procuro.
para que mesmo adulta, eu ainda queira crescer.
- abril, 2024.
Foto/Texto: Carol Chagas
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