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Mostrando postagens de 2019

como é que a gente se despede da gente?

Quando Ted, de How i met your mother, está prestes a deixar Nova York na nona (e infinita) temporada, ele faz uma lista de coisas que ele sentirá saudade de fazer na cidade. E ao listar as últimas vezes, sua amiga Lily lhe dá um conselho: “Você escreveu todas essas coisas para as quais dizer adeus. Mas há tantas coisas boas. Por que não dizer adeus às coisas ruins? Diga adeus a todas as vezes que você se sentiu perdido. Para todas os ‘nãos’, ao invés dos ‘sins’. Para todos os arranhões e contusões. Para toda a mágoa. Diga adeus a tudo aquilo que você realmente deseja fazer pela última vez”. Quem já se mudou, sabe. Em meio a pilhas de coisas pra fazer e arrumar, parece que tudo vem acompanhado pelo gosto do que não iremos provar novamente. A rua onde a gente não vai mais se perder ou a biblioteca a qual não iremos mais pra pensar. A pessoa do outro lado do corredor a quem não mais recorreremos em tempos de novidades e dificuldades ou até mesmo o parque onde a gente já nasceu

o mesmo não é mais quem ele dizia ser.

Vestindo as lentes da verdade da vez, eu consigo ver. Dessa vez, a claridade não me assusta. Não estou no ponto mais elevado do céu, mas daqui é possível perceber o rumo que as coisas estão tomando. A vista é diferente. a mesma gente usa roupas diferentes e o sentimento é outro. Quase dá pra sentir o frescor no ar. Estamos na mira do verão e além do suor e da saliva, não se sabe muito bem o que esperar. Os caminhos parecem sinuosos o bastante para tentarmos percorrê-los. e apesar dos temores, a vontade de dar cada passo parece maior que o medo de se perder. Já sabemos que vai acontecer. É só olhar para os lados e perguntar para os moradores. Todos já sabem que na próxima estação, nós não seremos nós e não estaremos aqui. Voltaremos outros vestidos com as mesmas capas brilhantes que sempre nos protegeram. Dentro é seguro e a gente consegue enxergar o que é que o lá fora esconde. A chuva de verão não vai nos molhar o bastante. Não mergulharemos no mar o suficiente

não deixe o tesão morrer.

se tem uma coisa que eu procuro é sentir tesão nas coisas que eu faço. e quando falta, é tipo um relacionamento sem química: não vai pra frente. eu sou a rainha dos projetos paralelos. posso te mostrar uma lista de tudo que já passou pela minha cabeça e me fez acordar cedo e dormir tarde. de tempos em tempos, chega uma ideia. e geralmente, eu abro a porta, deixo entrar, chamo pra comer brigadeiro e ver um filme. deixo ela se instalar aos poucos e, quando vejo, fui conquistada. se apaixonar por gente é muito bom, mas se apaixonar por ideias é uma delícia. é como se encantar com uma versão tua que ainda não existe. é se descobrir bem aos pouquinhos. e descobrir é uma das minhas grandes paixões. só que como o tempo abrevia tudo que existe nessa vida, não seria diferente aqui também. sou tão obstinada quanto instável, da mesma forma que mergulho, quando dou por mim, já não aguento mais ficar na água. é o preço da intensidade, meus amigos. da mesma maneira que a gente pre

produto temporariamente indisponível.

ultimamente, não tenho conseguido escrever nada por inteiro. tudo que escrevo no papel, também me escapa. é como se os restos sobre tudo que penso estivessem fragmentados e eu não conseguisse reuni-los. até mesmo porque para mim própria, eles não parecem legíveis.  existem conversas, reais e hipotéticas, passados que passaram-se de forma alternativa a esta realidade que hoje tento entender. cada linha que passa por mim é um sussurro distante sobre o que quero pra minha vida e não assumo. do que sinto e não digo. e volta e meia, estas vozes dizem, mesmo que eu não consiga entender a narrativa que permeia o estado natural delas.  sinto falta de construir pontes comigo mesma. de me saber, mesmo que de forma abstrata. hoje nem por aproximação, tenho uma vaga ideia do que estou vivendo. de alguma forma, estou atada por nós que eu mesma me dei e esqueci de me avisar que estavam por ali.  como quem esquece a senha de uma conta importante. talvez eu precise admitir o meu esque

rabiscos sobre o que já fui.

Lembro-me de quando eu era criança e fazia inverno e eu usava meias para dar qualquer passo dentro de casa. às vezes, meus pais erravam a mão no detergente quando lavavam a sala e não importava o quanto eles encharcassem o chão pra compensar, tudo ficava lisinho lisinho por pelo menos três dias. e eu fazia a festa.  chegava da casa da minha vó, arrancava fora os tênis como quem solta o cabelo depois de ficar o dia todo preso. e deslizava por aquele chão. ligava a tv. e via qualquer coisa que eu gostasse enquanto patinava no gelo e me sentia rápida, habilidosa no piso. meus pulos eram saltos triplos.  a sala, lisa ou não, costumava ser meu palco. ali eu dava shows, recriava cenas de séries e filmes que eu gostava, ensaiava vidas que eu imaginava viver algum dia. criava cabanas e fazia rapel ao enrolar a rede de diferentes jeitos no gancho da pequena sacada. lambia o prato ao fim de um miojo, só porque eu era apaixonada por queijo ralado e não tinha como desperdiçar.  co

Sobre Ross e Rachel estarem (ou não) dando um tempo.

Quando comenta-se sobre as cenas mais emotivas de Friends, o término de Ross e Rachel, conhecido por roubar lágrimas do público, dispara na frente de qualquer lista sobre momentos da série. O relacionamento do casal foi esperado por temporadas e, quando de fato acontece, temos a chance de curtir a história deles sendo construída. De primeiras vezes a gestos românticos, ‘Ross e Rachel’ eram a expectativa do amor utópico que toda uma geração sonhava em encontrar. E até mesmo na terceira temporada, quando a relação passa a se tornar mais real e vemos os personagens descobrindo as imperfeições um do outro, é possível enxergar graça nesse laço que parece tão sólido. Um processo catártico se inicia quando Rachel arruma um emprego de que gosta verdadeiramente. Quando ela resolve querer mais para si. Mesmo dentro de um relacionamento, aquele momento era dela, não do casal. Rachel vivia sua própria narrativa, como que acordando e relembrando o porquê de ter largado seu noivo no alta

E se esse tudo não for o bastante?

Não sei direito o que pensar e o que dizer. Olhando rápido, parece que a vida tá suspensa. As coisas parecem ter perdido seu movimento habitual. Algumas se atropelaram, outras caminharam para trás como quem tenta voltar pra casa no sentido inverso.  Uma porção de flashes é disparada até mim volta e meia na cozinha quando lavo a roupa acumulada de tantos dias que já nem tenho mais o que vestir, enquanto me pergunto de quem é a sombrinha vermelha esquecida na mesa de casa.  Algumas mensagens inapropriadas chegam até mim como quem não quer nada e se demoram dentro da minha cabeça. Eu que já mudei tanto, por vezes retorno ao mesmo lugar. Num segundo, sou dona de mim e me percebo como criadora de muita coisa que acontece ao meu redor. Noutro, não sei o que estou fazendo ou o que estava pensando ao fazer tantos planos.  É como Rachel Green, de Friends, e tantas outras pessoas que foram programadas por muito tempo pra fazer uma determinada coisa - no caso dela, casar - e quando

04:12.

Tentei te dizer tantas palavras que hoje se perderam no céu da minha boca. Mudei de ideia e me inventei como um personagem que troca de cenário a cada cena escolhida.  Encolhi meus braços até perder de vista aquilo que um dia imaginei querer. Procurei ser alguém que não sou com a desculpa de me procurar em cada canto impensável. Queria ter me aberto de dentro pra fora sem esconder o marca-página na gaveta mais próxima. Me perdi ao trocar de pele conforme a música mudava. Desisti de ser tudo aquilo que não sou pra facilitar as coisas. Decidi sentir cada parte minha sem fugir do desconforto para testar meu reflexo no espelho. Tenho um mundo dentro de mim que espera, aceita e respira. E que, pela primeira vez, não teme a vida. Anseia pela dor, pelo amor, pelos prazeres e desprazeres, pela frustração, por tudo aquilo que atravessa o calor entre a pele e a alma. Prometo não fugir quando a vida me encontrar. E se ela tentar me revirar, eu vo

5 coisas que você pode fazer pela sua saúde mental.

Não sou psicóloga, terapeuta ou qualquer outra especialista no assunto. Sou humana e dou meus pitacos conforme o que dá certo comigo . Como que num exercício terapêutico, listei coisas que me traziam um pouco mais de paz nos dias em que não estou lá muito sã. Decidi compartilhar porque vai que isso te ajuda também.  Quando criança eu odiava. Não fazia sentido arrumar uma coisa que eu ia desarrumar pouco tempo depois. E por esse lado, eu estou certa. Mas nos dias mais difíceis e improdutivos, arrumar a cama é tudo que eu tenho.  Se alguma coisa der errado, pelo menos eu consegui arrumar a minha cama. Também penso na louça desse jeitinho. Às vezes uma pequena coisa que eu faço pela minha casa acaba sendo grande no meu dia. Não consigo dormir cedo, beliscar uma frutinha, meditar por dez minutos, tomar dois litros de água, comer vegetais, me alongar e tomar café da manhã reforçado todos os dias. Às vezes me atrapalho com o tempo, às vezes o cansaço me vence e eu desist

(Nó)s.

Nunca escrevi sobre nós. Já escrevi sobre você . E infinitas vezes sobre mim mesma quando te pensava como escolha certa.  Mas nunca senti segurança o suficiente pra escrever sobre o que deixamos de ter. Você me plantou dúvidas desde o início e eu acabei nunca acreditando em nada que pudesse surgir dali. Passei tempos desconsiderando o que eu sentia. Mandando o frio na barriga calar a boca e o sorriso que involuntariamente aparecia quando você chegava ir embora.  De meses em meses, nos conhecíamos de volta. Mas sempre fiz questão de me lembrar que só éramos troca naquele momento. Eu repetia pra mim mesma e para quem perguntasse "somos apenas amigos". Mas hoje confesso, no fundo nunca foi assim pra mim.  Você sempre foi possibilidade. Eu costumava achar que era o timing, hoje vejo que é a gente mesmo. Somos opostos complementares e eu não tô falando de signo. Pela primeira vez, tô falando de você e de mim, num mesmo texto.  Na minha cabeça, nós somos espelhos

O "ainda" preso em linhas.

é uma linha. elástica, mas com pouco retorno. ela pode ter propulsão e ser atirada. mas ainda vai ser uma linha. não há como exigir que algo seja de uma forma diferente do que se é. nem todos os materiais podem ser controlados, como você controla a propriedade química do seu corpo.  sua vontade pode ser reprimida, mas ela ainda vai gritar em você. mesmo que em silêncio. as borboletas vão aparecer. vão te tocar e avisar. você não pode se decepcionar com uma linha se aceitá-la como a mesma realmente é. é tudo tão passageiro. os conflitos tão mundanos. que vida apagada seria a sua se você se chateasse porque uma linha te acertou. talvez seja seu ponto fraco. e seja a estação em que o vazio grite mais alto. mas ainda é só uma linha. às vezes machuca e é mal calculada. mas você consegue ver de longe? um ponto fora da rota não desfaz uma curva. um corte sim. ele destrói linha, agulha e todo e qualquer pedaço de vida que existir por a

Desencanto.

Ela já havia sentido, o que costumava chamar de "a grande dor". Mas ali, naquela rodoviária de uma cidade desconhecida e abandonada por multidões, Cecília sentia-se sem rumo. Seus olhos pareciam estar viciados em escoar tudo aquilo que ela não conseguia dizer em voz alta.  Estranhos iam e viam e ela se perguntava se aquilo que ela sentia também iria passar em algum momento. Cecília não tinha perspectiva. Ela tentava encontrar paz no caos, mas a bagunça parecia grande demais.  O mundo e suas questões a sequestravam desde pequena. Mas dessa vez, não havia uma resposta. Ela pensava no esquecimento como solução, mas a dor seria tamanha. A desistência. O atalho mais curto para o alívio poderia acabar numa rua sem saída para todos como num espiral de consequências não planejadas.  Ela só queria ser feliz, mas isso parecia cada vez mais difícil em meio ao entorpecimento do desconhecido que havia nela. Cecília aconselhava amigos, pintava e fazia um tanto de outras cois