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nublagem momentânea.

Desde minha segunda terra natal, condicionei o milkshake de uma franquia de Minas Gerais a ser minha bebida do pensar. Aquela que quando a gente escolhe e tá sozinha, o pensamento voa. Traz o longe para perto e manda pra quilômetros tudo que está ao nosso redor.

Quando voltei a morar na cidade em que cresci, vi no milkshake uma pequena ponte entre meus dois mundos. Como se o canudinho, agora de plástico, antes de papel, pudesse me teletransportar para distâncias mais distantes do que pensei ser possível e com o bônus de não me gerar as famosas dores nos joelhos que nascem das horas encolhidas no semi leito.

Hoje pedi o copo pequeno de costume e por alguns minutos, voei enquanto olhava pra janela que dava pra rua principal de um dos centros da cidade. Eu já não morava mais ali, mas também não morava em outro lugar. Os tempos andavam confusos. Minhas vontades misturadas. A insegurança batendo mais forte em portas que se abriam com uma maior frequência do que eu gostaria.

O clima nublado deixava tudo mais melancólico, mas eu não sentia melancolia. Respirava calma, me via paciente e, talvez fosse o remédio que tentava driblar minha insistente dor no siso, mas eu conseguia ver as coisas com clareza. Mesmo que ainda sem entender qualquer conceito, eu conseguia enxergar como quem acende a luz do quarto assim que acorda. 

Perambulava confusa pelas linhas da minha cabeça, mas começava a tatear algum tipo de sentido. Mesmo que ainda não estivesse presente ou legível, eu tentava ler. Continuava tendo sonhos pintados de passado, sentindo medos cabíveis e desgastantes e sendo assombrada por erros sociais contemporâneos.

Tempos estranhos se formavam e eu não me sentia forte, mas às vezes enxergava algo. O olho brilhava, a curiosidade crescia, até que o sol se escondia atrás da nuvem e tudo passava. Essa pesada massa que nublava me lembrava meu maior medo: chegar ao fim sem ter dito para que vim ao mundo.

Não que eu tivesse uma consciência sobre o final de qualquer coisa, mas parte de mim temia que eu nunca chegaria onde eu desejo. Talvez as ideias pertençam ao campo do ideal, afinal de contas. E eu não sei se tenho o que é preciso para viver neste mundo feito de pedra, papel e tesoura.

Meu corpo tem reconhecido dores que não gosto de sentir e a minha energia é mais escassa do que eu gostaria de admitir. Sou jovem, mas não carrego a coragem e a impulsividade da juventude. Minha cautela me entrega de bandeja para o meu medo do fracasso.

Algum dia sairei desse ciclo que não me lembro de ter pedido pra entrar? Qual é a palavra mágica que revela a passagem secreta para a saída? É preciso simular um incêndio para me expulsar à força? Gostaria de apelar para as forças externas, já que as minhas parecem ter ido com deus para qualquer lugar que não seja dentro de mim.

Minha pressa mental está cansada de apressar a calmaria que veio de brinde com o meu corpo. E os meus órgãos estão exaustos de presenciar esse desencontro. Sem uso, eles enferrujam. Veem na demora um bilhete de últimos.

Não entendem porque minha cabeça parece culpar o tempo, se os minutos continuam a valer 60 segundos cada como sempre foi. Há uma trava de segurança que mais segura do que protege e a esta altura, é preciso romper para avançar.
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Foto e texto: Carol Chagas

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