Pular para o conteúdo principal

Dona Praia Grande.

Os escritores que me perdoem, mas nunca fui dessas que enaltece a terra natal. Pelo menos não até sair dela.

Praia Grande é lugar onde as pessoas se criam dentro de prédios e não vão na praia na frequência que creem os de fora. Usa-se chinelo com qualquer roupa do armário e se sente bem arrumado. Vemos o mar ser só nosso e de uns poucos de abril a novembro e nos sentimos invadido de dezembro a março. 

É fazer amigos de fora e esperá-los nos fins de semana e feriados prolongados. É descobrir no verão ter mais parentes do que você fazia ideia. É ter melhores amigos por anos e não saber de cor o nome dos pais ou a cor da parede de seus quartos. É pegar conchinhas e sentir culpa logo em seguida - por prejudicar o meio ambiente conscientemente - ao se ouvir "essa branquinha é a última" mais uma vez.

É andar no calçadão com suas pessoas favoritas ou até mesmo sozinha. É marcar um sorvetinho com um amigo e esse ser o melhor reencontro.

Desanimamos com a garoa, colocamos casaco fazendo vinte e quatro graus. Não pisamos nos parquinhos da praia por medo de morrer e queremos morrer de verdade em julho quando é nublado o tempo todo e a cidade está completamente vazia.

Ser de Praia Grande é ir ao Shopping, num barzinho da Mallet ou na faculdade mais popular em Santos e encontrar todo mundo que você já conheceu um dia. É perceber que pessoas de diferentes círculos sociais da sua vida se conhecem. 

É descobrir que o sonho do praia-grandense não é ver a neve - como todo bom brasileiro -, mas ter uma sombra pra chamar de sua. Já que aqui não temos muitas árvores. Me desculpem os turistas, mas apesar de ficar bonitinho em fotos, o coqueiro é o mesmo que um poste nos dias de calor.

Passar as férias numa cidade em que você costumava morar o ano todo tem seus privilégios. Numa avenida em que moradores - vestindo traje social saem do ar condicionado para almoçar - transitam do ladinho de turistas - em roupas de banho voltando da praia á espera de uma ducha - você pode ser os dois.

- Dá pra arrumar um emprego de verão, trabalhar no negócio da família, entregar folhetos na rua principal da cidade.
- Dá pra ir á praia ao meio-dia, comer milho no prato e pular as 7 ondinhas o verão todo.

Mas no fundo, você sabe que não é nenhum deles.

Você conhece o lugar que vende o sorvete mais barato, sabe os horários menos tumultuados da padaria do bairro e está ciente das estatísticas de assalto. Conhece as ruas mais perigosas e não se arrisca a usar joias e celulares desnecessariamente - pros amigos que perguntam, tá aí a causa da ausência de vida instagrâmica na minha cidade -. 

Mas sente que está ficando pra trás quando lojas são substituídas, prédios levantados e conhecidos são esquecidos. Parece que ela se torna menos sua e você menos dela, por consequência.

A gente vai embora de Praia Grande achando que nunca mais vai voltar, mas retornar logo em seguida. Pela família, por amor ou pela paz de espírito.

Aqui vivi dezenove anos e, cada vez que retorno, me redescubro.

Vou a lugares - alô show de verão e feirinha hippie - em que eu não costumava me permitir ir por serem de "turistas". Aceito de braços abertos as consequências da umidade no meu corpo e cabelo. Vejo amigos distantes ficarem próximos bem rapidinho de novo. Percebo a relação com meus pais se tornar mais livre e branda. Me dou tempo.

Nasci em Santos - uma constante nas crianças de Praia Grande nos anos 90 -, mas foi aqui que minha infância, adolescência e primeiras experiências fizeram morada. Assim como meu coração.

Praia Grande é aquela tia de 52 anos que ainda ama receber todo mundo em volta da mesa e faz você esquecer os problemas quando passa pelo portal da cidade. A maresia pode até enferrujar algumas de suas coisas favoritas, mas pode passar o tempo que for, a alma continua intacta. A dela e a nossa.

Obrigada por ter sido palco de tanta coisa. Feliz aniversário, senhora! ♥
--------------------------------------------------------------




Foto e texto: Carol Chagas

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Playlist da Semana

Oi, gente. Desculpa pela ausência aqui no blog, é que eu estou com provas e trabalhos. E até tenho bastante ideia pra posts, porém me falta tempo. Mas arranjei um minutinho pra fazer a playlist da semana, porque ela não pode faltar haha. Não sei se acontece a mesma coisa com vocês, mas eu sempre estudo com música, é como se ajudasse na concentração. Só tem uma coisa, tem que ser uma música que eu já conheça, vai entender né. Então, a playlist dessa semana está recheada de músicas antigas, que me trouxeram a nostalgia de alguns anos atrás. Então é isso, espero que vocês gostem. Prometo que quando acabar as provas, eu irei postar todo dia. Juro mesmo! Boyce Avenue feat. Diamon White - Unwritten (Cover) Sandy e Junior - Estranho Jeito de Amar Ke$ha feat. Will.i.am - Crazy Kids Jordin Sparks - Battlefield Demi Lovato - La La Land High School Musical 3 - Scream Kelly Clar

laudo de agosto.

a percepção do tempo tem sido tão desconexa. algumas coisas deixaram de existir em algum momento desse ano, mas por não saírem da cabeça, parecem nunca ter ido embora. enquanto outras, ainda duvido de que tenham acontecido há apenas oito meses.  minha mente ultimamente tem se movimentado como um pêndulo, nunca completamente certa de onde está, sempre vagando tentando encontrar um bom lugar ao sol - mesmo que não se vejam muitos lugares com algum tipo de vista -.  às vezes me percebo tão enferrujada, como quem tenta voltar à vida, mas que ainda permanece cercada por uma barreira invisível. noutros momentos, parece que ainda tem tanto pela frente, mesmo que os últimos dias tenham sido tão terrivelmente iguais.  é incrível como falta algo em todo lugar que eu vou. estou começando a achar que não são os lugares, mas eu que me fragmentei a tal ponto, que agora pareço nunca estar completa, como quebra cabeça com peças demais.  tudo está perambulando pela minha cabeça, mas nada parece ficar.

A Verdade Sobre os Desenhos

Como qualquer criança normal, eu passei minha infância assistindo desenhos (ainda assisto haha). Só que quando a gente cresce, passa prestar mais atenção ainda neles. Outro dia, eu descobri alguns significados ocultos de um desenho que eu assistia, e resolvi pesquisar MAIS sobre outros. Veja abaixo. 7 Monstrinhos O desenho era exibido na Tv Cultura. E quem era fã mesmo, tinha até a música de abertura decorada hehe. Tudo muito lindo, mas e se eu te dissesse que ele era uma crítica contra o nazismo? Isso mesmo. De acordo com algumas teorias, os 7 monstrinhos representariam a visão dos alemães sobre os judeus.  Eles eram vistos como monstros, possuíam o nariz bem grande, e olha só que coincidência: No campo de concentração, eram identificados por Números. Um dos personagens usava um pijama listrado bem idêntico ao uniforme que os judeus que eram presos tinham que usar, e eles também moravam no sótão (local onde os judeus se escondiam).  Bob Esponja Para o nosso que

TOP 5: Séries Que Se Passam na Praia

As férias já estão quase no final, mas ainda temos a companhia do verão por um tempinho (até dia 20 de Março). E as praias costumam ser o local favorito da galera nos dias de calor. Como eu vivo em uma cidade litorânea há 19 anos, confesso que nem dou mais tanta bola.  Mas nem eu mesma escapo dela nos dias muito quentes. Se você não mora em nenhum lugar que tenha mar (♥), não se preocupa! Fiz uma lista com 5 séries que se passam no litoral, só pra você matar a vontade fazendo maratonas :)  Desde criança, me identifiquei muito com todas elas, tirando o fato de que eu não ia a todo momento como os personagens :P Mas isso são detalhes. Bora assistir os seriados? ;) The O.C. Em The O.C., Ryan Atwood é um adolescente que passa por muitos problemas. Logo no início da série, ele é preso por causa de seu irmão, que foi pego roubando um carro. Ryan acaba sendo solto graças a um advogado do estado.  Este sente pelo garoto e o leva para viver em sua casa. O que o menino não

Os Signos dos Cantores

Música é uma das melhores coisas da minha vida e acredito que na de muita gente também. Ela está presente em diversos lugares e nas mais diversas línguas, mas na última semana ela está ainda mais em evidência aqui no Brasil. Sim, estou falando do Rock in Rio ♥  Inspirada nessa vibe musical, decidi fazer um post sobre os cantores, mas de um jeitinho diferente. Quem me conhece, sabe que eu amo astrologia e, geralmente, acho alguma semelhança entre pessoas do mesmo signo.  Então, para celebrar a minha mania de procurar o aniversário dos cantores, resolvi reunir muitos deles em um post :) Lembrando que podem existir diferenças nos perfis que eu descrevi, dependendo do ascendente e da posição das casas , okay? Agora vai lá, ler :P Áries Os arianos são conhecidos por iniciar, colocar em prática coisas que ainda não foram realizadas. E que, por esse motivo, sempre são lembrados por seus feitos.  Áries é o tempo de começos e isso fica ainda mais evidente ao observarmos

Filmes Mind Blowing

Fotos: Google Imagens Oi, galera. Esse fim de semana fez muito frio (<3) em grande parte do Brasil (creio eu). E uma coisa que eu simplesmente amo fazer com esse tempo, é assistir filmes haha. Acredito que muita gente pense como eu. Então resolvi fazer uma lista com filmes Mind Blowing. Eu explico.  A tradução literal da palavra Mind Blowing significa sopro da mente. Mas, o significado pode ser interpretado como uma sensação que vai além da confusão, te deixa de boca aberta, e faz com que você sinta algo que não pode explicar.  É como descobrir um mistério, ou algo que você tem que parar para entender e que mesmo depois do fim da história, você continua pensando naquilo. E é isso que esses filmes têm em comum, todos da lista trazem essa confusão kk, o que faz com que valham muito a pena serem vistos. Espero que vocês gostem (: A Origem O filme se passa num mundo onde é possível entrar na mente humana. E Cobb (Leornado Di Caprio) é um dos melhores em usar suas

Trilha Sonora: Simplesmente Acontece

Não sei se vocês perceberam, mas eu meio que amei o filme Love, Rosie (Sim, prefiro o título original). Mesmo já tendo feito um post sobre ele , não pude deixar de comentar a Trilha Sonora.  A história se passa durante muitos anos e a música evolui com ela. Nem preciso dizer que achei esse fato fantástico. Além disso, os nomes variam entre artistas famosos como Beyoncé a outros não tão conhecidos assim, mas incríveis igualmente.  Ah, tem até composição instrumental, que super combina com os momentos das cenas. Resolvi escolher as minhas favoritas e colocar aí embaixo para vocês ouvirem e amarem tanto quanto eu estou amando (:  Algumas delas você só vai gostar mesmo se assistir o filme haha (já falei como é bom lembrar de uma cena ao ouvir uma música).  Lily Allen - Littlest Things Elliott Smith - Son of Sam Lily Allen - Fuck You Kodaline - High Hopes KT Tunstall - Suddenly I See Beyoncé - Crazy in Love G

p(r)eso.

Os prédios estavam mais altos do que o de costume e ultimamente, eu me sentia menor do que nunca. Me sentia perto o bastante de fazer coisas que quero, mas infelizmente, tão distante quanto era possível. Não haviam forças disponíveis para me restaurar e ao mesmo tempo, eu me sentia presa e predadora do que quer que estivesse à solta. Me sentia rodeada, mas não me via ali, presente. Enxergava pouco e para minha surpresa, não eram somente as luzes ao longe que estavam nebulosas. Nos últimos dias, nada mais parecia estar definido. E isso me definhava aos poucos. Me comia viva sem pedir troco, me dessensibilizava a ponto de eu me sensibilizar com migalhas. Eu não era mais minha ou de quem quer que fosse. Isso me frustrava. Mais uma vez, me via ali estirada ao chão, como quem pede ao mundo um pouco de carinho. Sempre perto de aniversários. Ninguém continuava tendo respostas para as coincidências que apareciam em determinados meses. Será que esse ciclo torto sempre voltaria a se repetir? Eu