Abril, 2018. |
Aos quinze, altura era um de meus maiores medos. Só de encostar na sacada da minha casa na época, eu sentia náuseas. Eu pensava na queda. Na possibilidade de me desequilibrar. Que tolice seria morrer por descuido, pelo acaso, eu pensava. O hipotético momento de descontrole me deixava aterrorizada.
Eis que num dia ensolarado, me vi ocupando um lugar numa montanha-russa. Passei cinco horas na fila e, tinha sido incrível. Meus amigos e eu nos divertimos tanto que, não havia sobrado espaço para o medo crescer. Quando vi, já estava sentada. As travas - que não eram lá muito seguras, para meu desespero - já haviam sido abaixadas, quando perguntei para meu amigo "ainda dá pra desistir?". Ao que ele nem precisou responder, já que o brinquedo começou a andar.
Os primeiros 30 segundos foram os piores da minha vida. Uma subida lenta e dolorosa. Eu desmoronava de dentro pra fora ao pensar na descida. Não conseguia não deixar meus olhos abertos. Lá do alto, vi uma multidão na fila ansiosa pelo momento em que me encontrava. E eu só conseguia pensar em como trocaria de lugar com qualquer um deles.
O brinquedo parou. Talvez houvesse algum problema. Todos teriam que evacuar por segurança. E esta seria minha chance de ir comprar um refri e nunca mais voltar. Mas na verdade, a subida havia acabado.
Despencamos.
Não me lembro de gritar. De fechar os olhos. De sorrir. Acho que durante aquele um minuto e meio, eu fiquei em estado de choque. Sendo jogada de um lado pro outro, sem um pingo de emoção na minha face.
Quando identifiquei uma espécie de padrão nos movimentos do brinquedo, me acostumei. Só esperei pelo fim.
Chegamos. Travas para cima. Levantamos.
Minhas pernas estavam energizadas. Fracas. Eu sentia choque nelas como acontece quando a gente se apoia sobre uma parte do corpo por muito tempo. Parece que aquele órgão é de outra pessoa. E por alguns segundos, ele deixa de ser nosso.
Nesta época da vida, eu não era muito exposta a novas experiências. O que faz com que esta seja uma de minhas memórias mais marcantes. Naquele momento, eu me sentia tão leve. Era como se o mundo flutuasse comigo. Costumo dizer que nesse dia, perdi minha alma. Mas na verdade, pela primeira vez, fui além do medo.
Não sou uma moça de coragens. Mais corro, do que encaro. Fujo do frio na barriga até onde der. E na maioria das vezes, não dá certo. No fim, talvez a gente não precise ser destemido a vida toda. Mas precisemos ser impulso por uns dez segundos.
O medo sempre vai ser do tamanho que nós damos a ele.
Talvez ele nos paralise. Nos diminua. E seja uma verdadeira barreira viva para o que no fundo, a gente realmente quer. E tá tudo bem.
A gente só precisa do impulso. Do um minuto e meio depois disso, a gente dá conta.
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