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Mostrando postagens com o rótulo Textos

laudo de agosto.

a percepção do tempo tem sido tão desconexa. algumas coisas deixaram de existir em algum momento desse ano, mas por não saírem da cabeça, parecem nunca ter ido embora. enquanto outras, ainda duvido de que tenham acontecido há apenas oito meses.  minha mente ultimamente tem se movimentado como um pêndulo, nunca completamente certa de onde está, sempre vagando tentando encontrar um bom lugar ao sol - mesmo que não se vejam muitos lugares com algum tipo de vista -.  às vezes me percebo tão enferrujada, como quem tenta voltar à vida, mas que ainda permanece cercada por uma barreira invisível. noutros momentos, parece que ainda tem tanto pela frente, mesmo que os últimos dias tenham sido tão terrivelmente iguais.  é incrível como falta algo em todo lugar que eu vou. estou começando a achar que não são os lugares, mas eu que me fragmentei a tal ponto, que agora pareço nunca estar completa, como quebra cabeça com peças demais.  tudo está perambulando pela minha cabeça, mas ...

ainda vejo você.

Todos os dias, entre um silêncio e outro, peço para algo ou alguém maior que eu me ajudar a te esquecer. Peço porque as lembranças chegam em horas inoportunas e porque as camadas me despertam sensações diferentes. De cores agradáveis a tons tristonhos numa fração de segundos. Estou cansada de me sentir dolorida. Me apego a fantasia de que as coisas irão mudar, de que iremos voltar a saber um do outro, mas sinceramente, não sei mais se acredito nisso. A cada dia dói mais me dar conta de que isso provavelmente não vai acontecer.  Dias se tornaram semanas e aos poucos, elas se tornam meses sem ouvir uma palavra sua. Tenho tantas coisas para te dizer que poderia encher um quarto de sílabas tônicas. Mas a minha cabeça já está começando a se esquecer de coisas básicas.  Aquelas mesmas ruas ainda me lembram você, mas eu não sei mais qual é a história que se passa aí dentro. Acho que não cheguei a saber por completo e isso me entristece novamente, como num looping perigoso em que eu ...

cativante cativa

entre intervalos de páginas em branco encontro títulos curiosos de filmes ou capas que cativam o meu olhar de tal forma que declaro "precisamos ser apresentados". às vezes consigo assistir logo que os conheço, mas tem horas que perco a deixa ou pior, não encontro uma maneira de conhecê-los a tempo. mesmo que o tempo não tenha uma hora certa para as coisas acontecerem. acho que não sou assim só com filmes, mas também com pessoas. os donos dos nomes que me atiçam a curiosidade ou as imagens que vejo (e crio?) de alguns humanos me dão vontade de conhecer mais. quero ver, escutar, assistir, tocar, conversar, viver. e quando não posso, me sinto frustrada. como já é de conhecimento comum, a expectativa é a mãe da roubada, mas dessa família eu infelizmente ainda não sou capaz de me desvincular. ler 2 capítulos de um livro perfeitamente interessante e ter que fechá-lo é, pra dizer o mínimo, decepcionante. não que eu não esteja acostumada a coletar decepções, - minha média é de duas p...

p(r)eso.

Os prédios estavam mais altos do que o de costume e ultimamente, eu me sentia menor do que nunca. Me sentia perto o bastante de fazer coisas que quero, mas infelizmente, tão distante quanto era possível. Não haviam forças disponíveis para me restaurar e ao mesmo tempo, eu me sentia presa e predadora do que quer que estivesse à solta. Me sentia rodeada, mas não me via ali, presente. Enxergava pouco e para minha surpresa, não eram somente as luzes ao longe que estavam nebulosas. Nos últimos dias, nada mais parecia estar definido. E isso me definhava aos poucos. Me comia viva sem pedir troco, me dessensibilizava a ponto de eu me sensibilizar com migalhas. Eu não era mais minha ou de quem quer que fosse. Isso me frustrava. Mais uma vez, me via ali estirada ao chão, como quem pede ao mundo um pouco de carinho. Sempre perto de aniversários. Ninguém continuava tendo respostas para as coincidências que apareciam em determinados meses. Será que esse ciclo torto sempre voltaria a se repetir? Eu ...

nublagem momentânea.

Desde minha segunda terra natal, condicionei o milkshake de uma franquia de Minas Gerais a ser minha bebida do pensar. Aquela que quando a gente escolhe e tá sozinha, o pensamento voa. Traz o longe para perto e manda pra quilômetros tudo que está ao nosso redor. Quando voltei a morar na cidade em que cresci, vi no milkshake uma pequena ponte entre meus dois mundos. Como se o canudinho, agora de plástico, antes de papel, pudesse me teletransportar para distâncias mais distantes do que pensei ser possível e com o bônus de não me gerar as famosas dores nos joelhos que nascem das horas encolhidas no semi leito. Hoje pedi o copo pequeno de costume e por alguns minutos, voei enquanto olhava pra janela que dava pra rua principal de um dos centros da cidade. Eu já não morava mais ali, mas também não morava em outro lugar.  Os tempos andavam confusos. Minhas vontades misturadas. A insegurança batendo mais forte em portas que se abriam com uma maior frequência do que eu gostaria. O clima nub...

pequeno milagre subterrâneo.

Hoje teria sido um bom dia para escrever minhas páginas matinais. Infelizmente, acabei acordando e desacordando muitas vezes, o que me fez levantar tarde. Durante todo o caminho, que percorro ao longo de 3 dias da semana, fui pensando sobre como estava me desencantando com São Paulo. Estava muito cansada, com sono e comecei a pensar sobre como gostei menos da cidade nessa semana. Vim pensando nisso durante o trajeto, até que entrei na linha azul e ouvi sons diferentes aos quais eu estava acostumada. Além daquela sonoridade mecânica com propósito claro de informar em alto e bom som sobre o que acontece no metrô, havia algo mais. Uma canção conhecida tocava e em questão de segundos, ela remexia tudo que havia aqui dentro. Um tamborilar de dedos. Uma guitarra dentro do metrô. Justamente uma guitarra! Me lembrei do quanto gosto de arranhar riffs no violão, do quanto amava ver um antigo amigo em seu instrumento favorito, do único show internacional que fui e amei tanto, da maioria das músic...

vivendo de pix do futuro.

Enquanto participava da corrente da vez e escrevia 5 fatos sobre mim, comecei a pensar também sobre como eu não estava pronta pra vida. Não sabia andar de bicicleta, muito menos dirigir, não tinha um emprego fixo, nem conhecido um milhão de lugares nacionais, internacionais então, nunca tinha ido nem ao Paraguai.  Não morava sozinha, ainda sem conseguir me sustentar por completo. Não tinha certeza nenhuma sobre a carreira que queria pra mim e até muito recentemente, não comia legumes.  A sensação que eu tinha era a mesma de um jogador dentro do BBB, que acorda pro jogo aos 45 do segundo tempo, e que prestes a ser eliminado ou a correr perigo, entende que precisa jogar um jogo.  Não que eu esteja acordada, mas depois de uma longa temporada apática, sinto que estou um pouco mais consciente em relação ao que acontece ao meu redor. Pela primeira vez em muito tempo, eu consigo enxergar algum tipo de futuro.  Mas essa sensação que, para mim é boa, de começar a pensar e a e...

espero que nunca.

Desde os 6 anos, sempre vi a morte perto demais. Nada de substancial me aconteceu nesta idade ou no restante dos anos em relação ao assunto, mas sempre senti que era questão de tempo, mesmo que o tempo em questão acontecesse somente dentro da minha cabeça. Assim como uma grande amiga,  não sei direito o que é intuição e o que é medo.  Frequentemente, essas duas linhas se cruzam e eu não consigo distingui-las muito bem. Pelo sim, pelo não, tento ignorar. Mas sempre imagino que aquela é a exceção da regra quase impraticável que se pratica na minha mente. Vai acontecer, eu sinto, tenho certeza. E nada de ruim acontece. Por mais que eu pense, repense e, de longe, vibre com isso. Não me leve a mal, não torço para que coisas ruins aconteçam, muito menos para que eu esteja certa, não tenho tanto apego à razão, como pudemos ver em todas as linhas acima. Eu  apenas minto para mim mesma e me acredito até que a vida se prove contrária . E para minha angústia, mas felicidade, ela sem...

de pulo em pulo

Não posso falar sobre o restante da população brasileira, mas eu, pessoa física, adoro não fazer absolutamente nada nos domingos. Gosto de assistir um filme - de gosto duvidoso ou não - deitada, como se aquele fosse meu estado natural e não houvesse nada de errado nisso.  Depois limpar minha caixa de e-mails e ver que ali só tem recibo de uber e spam. Às vezes resolvo escutar umas músicas antigas pra testar o arrepio, como quem repete beijo pra verificar se a química ainda existe ou se era coisa que passou com o tempo.  Sempre acabo lembrando do que preciso fazer na semana e, às vezes anoto, às vezes deixo pra segunda. Levanto pra encher um copo de água que provavelmente não vou beber na hora e me lembro de um grande ator que eu costumava gostar na infância e que, nos últimos anos, têm me entretido com entrevistas.  Assisto um ou dois vídeos e relembro o porquê gosto dele.  Lembro de um e-mail que mandei pra minha prima, do qual ainda não obtive resposta. Fico curios...

até certo ponto.

Eu não sabia bem o porquê. Mas aquela cena não saía da minha cabeça. A garota que traía o namorado - logo eu, que nunca namorei direito pra trair - e o mandava embora de sua vida por acreditar que não merecia alguém assim. Saudável. Um amor daqueles tranquilos que faz a vida ficar boa. Melhor até do que ela podia suspeitar.  Ela o mandava embora com pressa, como se fosse óbvio para os dois que aquela relação não tinha mais um lugar para ser. A feição dele passava da surpresa para o choque conforme ela dizia fragmentos do que queria. Eram ideias soltas sem uma narrativa que as amarrasse ou um cuidado que as despejasse de maneira mais palatável.  O episódio havia contado sua história familiar e, por mais que suas escolhas fossem questionáveis, elas eram compreensíveis. Mas Mia - nome da personagem da série a qual eu estava assistindo - tinha motivos. Por mais que ela própria não entendesse. O narrador e os roteiristas da série faziam questão de nos explicar.  Mas confesso q...

sou só eu aqui.

Vou confessar uma coisinha. Apesar de eu ter desaparecido daqui, eu nunca parei de escrever. Apenas parei de postar. Talvez por ter abandonado o formato  crônica  ou por ter passado muito tempo - basicamente os últimos 2 anos - achando que nada do que eu escrevesse merecia ser lido justamente porque estávamos (estamos?) à beira de um colapso sanitário, político e psicológico. Passando tanto tempo dentro de casa e olhando o mundo sob lentes que enxergavam muito mais do que sou capaz, eu me vi ser engolida. Assim, como quem tá passando na rua e do nada vê aquilo se desfazer. Na minha cabeça, nada do que eu sentia, pensava, dizia poderia ser necessário para qualquer pessoa. Era melhor ficar na minha. Os outros que falassem o que precisa ser dito. Para mim, de nada valia o meu mundo interno, enquanto tanta gente estava passando por tanta coisa. Tanta coisa que a gente não viu e só ouviu falar. Eu tinha pra mim que eu nunca mais voltaria. Quando eu sentia a vontade da escrita cheg...

começar sem acabar e acabar sem começar

de longe, consigo ver três livros que comecei ano passado e que nunca nem cheguei a saber como acabavam.  cada objeto na mesinha do meu quarto grita uma coisa ainda incompleta. o hd, esperando a tão sonhada organização das fotos; o livro novo esperando ser lido; o caderno de anotações (que eu prometi escrita todos os dias) não vê um escrito já faz tempo. um a um, eles somam algumas de minhas vontades que não foram pra frente. e esses são só exemplos palpáveis, terrenos e mundanos. ainda tem aqueles que não são muito específicos, são ideias, desejos e histórias que mereciam um desfecho ou talvez até uma continuação. mereciam mais do que apenas serem abandonados num canto esquecido. mas será que tudo realmente precisa caminhar para algum lugar? sinto que estou tão acostumada a ler, ouvir e assistir histórias que se constroem sobre um tempo com começo, meio e fim, que me esqueço que a cronologia real nem sempre é como achamos.  algumas pontas soltas se deixam soltar por anos, ant...

como é que tá aí?

O pantanal tá queimando e eu não consigo  ver uma saída pra retroceder.  O tempo tá passando estranho e  há um ano eu podia te ver.  Hoje só dá engano  e eu não posso ir até você.  Os meses tão se demorando,  mas a minha idade não demora a aparecer. Eu sinto o clima pela minha porta  e da janela vejo a cidade.  Vejo a areia lotada de almas  entortando a curva com serenidade.   eu continuo sempre desleixada,  sem saber o que quero pra mim.  viver da arte, me vender em sampa  ou uma vida mochileira enfim.  se eu não decido,  sei bem que a vida  decide por mim.  mas desse ponto eu não gostei nadinha e não me atrevo  a descer aqui.  se me desmancho na sacada,  tenho certeza que tenho plateia.  sem reembolso,  a peça livre é da garota que não tinha ideia.  a relação que tenho com essa casa  é quase de dependência pura.  é uma mistura assim de gratidão  e pris...

voltei a escrever a lápis.

Quando estava na segunda série, minha escola decidiu que éramos alfabetizados o bastante para começar a escrever as tarefas com caneta. me parecia cedo e importante demais.  N ão faço ideia se os professores nos avisaram como seria. mas lembro-me de ficar nervosa e surpresa. mais tarde eu saberia melhor como me sentiria à respeito de rituais e tradições. mas aos 6 anos, me sentia ansiosa a cada  ''próximo!'' dito pela professora, enquanto espiava os que entravam e dali não saíam pelas frestas da janela com grade.  Por fora, eu tagarelava algo - que nunca vou saber ou lembrar - com meus amigos. mas por dentro, eu sabia que a minha vez ia chegar. e era inevitável. eu só não sabia se isso me deixava feliz ou com medo. talvez os dois. a gente nunca sabe o que esperar ou o que sentir sobre o que não sabemos que acontecerá. Ao entrar, ganhei uma caneta azul bic com um laço rosa e um papel enroladinho. era um recado, comunicado ou qualquer outra coisa que info...

Petals for Armor mostra que há saída.

O texto de hoje não é só sobre um álbum, mas sobre um momento . Hayley Williams, mais conhecida como a potente vocalista do Paramore, lançou um álbum solo durante o hiato da banda. e mais importante do que a qualidade das músicas, é a jornada de Hayley nestas composições. ' Petals for Armor ' tem muitas camadas e merece uma escuta mais atenciosa. estou ouvindo pela terceira vez, não porque gosto de todas as músicas, mas porque me identifico muito com os sentimentos abstratos que ela aborda nas canções. talvez não venha com a roupagem que você espera. mas ele dá espaço para hayley explorar o seu momento e suas próprias complexidades. juntamente com a quarentena, o álbum vem quebrando a minha cabeça. trazendo mais e mais questionamentos. certezas que logo depois são lavadas. a memória sendo invadida e brincando com seus jeitos tão próprios de contar minhas histórias. arrependimentos, erros, possibilidades. esse labirinto tão bem elaborado ás vezes se torna cansa...